Tania Miranda

A vida é como um rio que corre para o oceano

Textos

VIVI
Eram dez horas da manhã de um dia maravilhoso. Temperatura amena, sol radiante, aquele ventinho fresco, macio... as folhas das plantas quase não se mexiam, tão calmo era o vento que soprava. As flores exalavam seu perfume, deixando a natureza mais bela, não só com seu cheiro como com a beleza de suas cores... as abelhas zanzavam de flor em flor, disputando com as borboletas e outros insetos o néctar oferecido pela natureza... os pássaros esvoaçavam pelo céu, preenchendo o espaço com seu gorjeio. Sim, o mundo parecia sorrir naquela manhã...

De quando em quando um tiziu pulava em algum galho e fazia seu som característico. Os bem te vis ficavam anunciando que tudo viam... os pardais e as rolinhas caminhavam pelo chão, a procura de insetos que iriam matar sua fome... as cigarras cantavam, perdidas pelas folhagens das árvores da mata. Ali perto, as águas de um riacho corriam mansas, cálidas, para seu destino... de vez em quando um esquilo pulava de um galho para o outro, sendo confundido com um pequeno macaco... os periquitos esvoaçavam pela folhagem, a procura de frutos para se saciarem...

Viviane corria por entre os arbustos, acompanhada por Mosquito, seu pequeno vira-latas, companheiro de folguedos e travessuras. Estava tranquila, pois era sábado e não teria que ir para a escola.  A garota e seu companheiro estavam a sassaricar por entre a floresta, enquanto sua mãe recolhia lenha, que seria usada para alimentar o fogão da família. Sim, ainda usavam fogão de lenha... sim, não usavam gás... porquê? Oras... é que moravam muito afastadas da cidade e era quase impossível um entregador de gás chegar até ali... a escola? Ficava um pouquinho longe do lugar em que ela morava. Sim, moravam na roça, num local ermo, perdido no meio do mapa... no meio do nada. Mas tinha o lado bom... a natureza seguia intocada. A floresta, imponente, parecia dizer ao transeuntes desavisados..."daqui não saio tão cedo"!

A fazenda onde Viviane morava com seus pais produzia principalmente hortifrutis... seu principal produto eram as batatas, mas plantavam várias outras culturas.  E também cultivavam um pomar rico em frutas, vários tipos diferentes. Podemos dizer que a fazenda parecia uma cidade em miniatura, tão grande era sua extensão. E também havia a área reservada para a pecuária. Ninguém acreditava que toda aquela extensão de terras pertencia a uma pessoa só... mas assim era.

Viviane nasceu na fazenda... sua mãe a concebeu em casa, com a ajuda de uma parteira. Hospital? Ficava muito longe, não tinha como levá-la até lá a tempo... mesmo porque, não tinha condução para fazer o translado. Quando a pequena ficava doente, o natural era que fosse levada à benzedeira, que morava algumas casas depois da sua. Médico? Que médico? Como eu disse, moravam afastadas da cidade, e não tinha condução fácil para chegar até lá... se a pessoa ficasse doente, só seria levada para o Hospital Municipal se as ervas dos curadores de plantão não dessem jeito, mesmo. E assim iam tocando a vida, em um mundo à parte que, se não tinha os confortos da vida moderna, tinham a felicidade de se importar apenas com aquilo que lhes era realmente caro...

Como eu disse, Viviane, apesar de morar afastada de tudo, ia religiosamente à escola. Era seu lugar favorito. A escola ficava dentro da Fazenda, sua professora era filha do patrão. Além de Vivi, outras crianças, filhas dos colonos, também estudavam ali. Vivi adorava estudar. E sua aula favorita era a de leitura. Quando a professora começava a ler uma nova história para a turma, Vivi cerrava seus olhinhos e passava a viajar com as sentenças pronunciadas pela Mestra. E quando a Professora pedia para as crianças escreverem uma historinha baseada naquilo que haviam acabado de ouvir, a menina viajava pelo mundo da imaginação de tal forma que quando apresentava seus escritos para a Professora, essa ficava simplesmente encantada. Sim, Vivi tinha "o dom das Letras".... e seu sonho era, quiçá um dia, conhecer os lugares que eram descritos nos livros que a professora lia e que ela descrevia em suas histórias... mas, enquanto esse dia não chegava, ela aproveitava cada segundo de sua meninice, brincando com seu companheiro Mosquito, imaginando correr com ele por entre as alamedas encantadas, pela estrada de tijolos amarelos...
Tania Miranda
Enviado por Tania Miranda em 03/06/2023
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