Se negro sou, ou sou bode,

Pouca importa. O que isto pode?

Bodes há de toda casta.

Pois que a espécie é muito vasta...

Há cinzentos, há rajados,

Baios, pampas e malhados,

Bodes negros, bodes brancos,

Bodes ricos, bodes pobres,

Bodes sábios, importantes,

E também alguns tratantes...



Bom dia. Hoje vamos falar do autor dos versos escritos acima. Nascido de mãe negra livre e pai branco, sua mãe saiu da Bahia, onde moravam, quando ele tinha 7 anos... ela foi para o Rio de Janeiro e nunca mais retornou....

Aos 10 anos foi vendido como escravo pelo próprio pai para que esse pudesse quitar dívidas de jogo... era analfabeto e nessa condição permaneceu até os 17 anos.

Autodidata, aprendeu a ler com um estudante de Direito, hóspede de seu Senhor. Um ano depois de ser apresentado às letras, já alfabetizava os filhos de seu dono. E algum tempo depois, com o conhecimento jurídico que foi aprendendo com os livros que lhe caíam à mão, conquistou sua liberdade legamente.

Foi jornalista. Fundou, com seus amigos, o primeiro jornal ilustrado humoristico da cidade de São Paulo.

Importante... foi o único abolicionista negro do Brasil que viveu a condição de escravo...

Tentou estudar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, mas não foi aceito pelos alunos daquela instituição. Então, estudou por conta própria, participando das aulas como ouvinte.

Foi escrivão da Secretaria de Polícia de São Paulo, mas como atuava como advogado em processos de escravos... e graças ao seu saber jurídico, era bem sucedido, foi demitido "a bem do serviço público", graças à pressão do conservadores, insatisfeitos com o sucesso daquele rábula ousado.

Graças a suas ações como advogado e jornalista, era uma das figuras de maior influência e popularidade na cidade de São Paulo.

Morreu de diabetes. Mas até o Dioguinho, pistoleiro famoso na época, havia sido contratado para matá-lo...

Seu enterro foi um espetáculo inédito, segundo as palavras dos cronistas da época... todos queriam ter a honra de levar aquele que foi uma das pessoas mais importantes do século XIX...

De quem estou falando? De Luís Gama, é claro...